Por volta de 1850, empresários envolvidos com o comércio e o tráfego marítimo reivindicavam a instalação de mais dois faróis na costa da Província do Rio de Janeiro. Os locais escolhidos eram a Ilha de Santana, próximo a Macaé, e SãoTomé. A esse último atribuiu-se a prioridade de implantação, devido aos baixios que de lá se estendem a até 10 milhas náuticas da costa. O Capitão-Tenente Francisco José de Freitas, primeiro Diretor da "Directoria de Pharóes", descreveu os baixios de São Tomé como "um sorvedouro perene de tantas embarcações, não obstante a conhecida posição dos mesmos, assinalados nas mais antigas e modernas cartas da costa".
O terreno adquirido para receber o farol tinha a vantagem de permitir boa visibilidade para o mar e distar apenas 13km da localidade de Santo Amaro. Essa proximidade facilitaria as comunicações dos faroleiros com a capital.
Em 1881, iniciou-se a montagem de uma torre Mitchell, com 47 metros de altura, a primeira do gênero no Brasil. A data de sua inauguração, 29 de julho de 1882, foi especialmente escolhida para coincidir com os festejos do 36° aniversário da Princesa Isabel.Curiosidade
A vida dos faroleiros e de suas famílias nunca foi das mais amenas. Eles moravam em dois pavimentos pequenos, construídos na própria torre do farol, a 12 metros do solo. Além do desconforto da altura e das escadas apertadas e íngremes, o areal que cercava a torre refletia a luz do sol e aumentava a sensação de calor.
Poucos dias antes do natal de 1889, o Diretor de Faróis, Capitão- Tenente Leopoldino José de Passos Jr., apresentou um relatório sobre sua viagem de inspeção a São Tomé , em que dizia estar impressionado com o dia-a-dia das famílias dos faroleiros e sugeria que fossem construídas casas separadas. Além do mais, a água usada na limpeza dos cômodos, quando jogada fora, escorria pela estrutura metálica da torre. A fumaça do fogão, além de sujar paredes e tetos, afetava o aparelho luminoso. Alguns anos depois, foram erguidas as casas "em terra firme", bem plantadas no solo.
Ludgero Rodrigues Arêas tornou-se um dos primeiros faroleiros de São Torné, cargo que assumiu em 1899. O interesse pela profissão foi repassado a seus descendentes, ano após ano. O último faroleiro da família Arêas a trabalhar em São Tome recebeu o mesmo nome de seu avô, pioneiro na profissão. Assim, Ludgero Arêas Crespo, admitido em 1942 e aposentado em 1969, encerrou a presença de 70 anos dos Arêas naquele farol.
O gosto pelo mar disseminou-se por outros membros da família. Um deles, Ivan Pereira Arêas, bisneto de Ludgero Rodrigues, crescido entre faroleiros, e hoje Vice-Almirante, titular da Diretoria de Hidrografia e Navegação, órgão ao qual estão vinculados todos os faróis do Brasil.
A França sempre liderou o mercado internacional de construção dos aparelhos lenticulares. A fábrica Barbier &. Fenéstre, inaugurada em 1862, em Paris, subsistiu, até cerca de 1970, como Barbier, Benard &. Turenne. Em 1877, os franceses já haviam exportado mais de 2.500 aparelhos.Com a criação da "Directoria de Pharóes", em 1876, por decreto imperial, o serviço de balizamento da costa e dos portos passou por uma grande reforma. A administração ficou centralizada, mas a execução dos trabalhos permaneceu sob a responsabilidade das Capitanias dos Portos.
Os faróis são reflexo do engenho de nossa civilização. Suas torres, de pedra, concreto ou metálicas, são testemunho da evolução da arquitetura e da engenharia civil. Os equipamentos luminosos clássicos são obras-primas da ótica e da mecânica.
¹Fonte: DANTAS, Ney – LUZES DO NOVO MUNDO – Histórias dos Faróis Brasileiros; 1ª Edição – Rio de Janeiro, RJ 2002; Editora Luminatti.
Nenhum comentário :
Postar um comentário